22 de jan. de 2013








Três anos depois do terremoto, ocupação e abandono

Situação no Haiti mostra dois lados da mesma moeda


Há 3 anos, em 12 de janeiro, um terremoto devastou o Haiti e matou mais de 500 mil, deixando 1,5 milhão de desabrigados. A infraestrutura do país foi arrasada e até hoje cerca de 500 mil haitianos vivem em 496 abrigos improvisados. A vida nesses campos é desumana: em barracas de lona há três anos, falta água, comida e não há luz. Alguns dos campos foram “removidos” dos lugares nobres da capital e transferidos para locais distantes com trajeto para a capital de mais de uma hora.

O desemprego após o terremoto bate recorde: dos 4,2 milhões de haitianos economicamente ativos, apenas 200 mil têm emprego formal. E nestes empregos, têm os piores salários do continente. Não é coincidência a inauguração, no fim do ano passado, por Hilary Clinton, de um parque fabril têxtil cujo salário é de 3 dólares/dia. 

República das ONGs

Dos 9 bilhões de dólares (R$ 18,3 bi) doados para a assistência humanitária , segundo o governo, apenas um terço do dinheiro destinado à reconstrução acabou nos cofres públicos haitianos. "A grande maioria foi para as ONGs". (OESP 12/01/13). Hoje são mais de 12 mil, vindas de 62 países, e recebem as centenas de milhões de dólares desviados da ajuda ao povo haitiano. Segundo a CPR – Centro de Pesquisa Econômicas e Políticas, apenas 27% do total de fundos arrecadados por ONGs que atuam no Haiti havia sido usados para evitar surtos e epidemias. O resto permanecia em suas contas bancárias. A Cruz Vermelha Americana havia usado apenas US$ 117 milhões dos US$ 464 milhões arrecadados; a Care EUA tinha gasto apenas US$ 9,6 milhões dos US$ 36,5 milhões arrecadados. "Os doadores foram enganados. Eles fizeram doações em resposta aos apelos para salvar vidas. Agora, depois que milhões foram arrecadados, os sobreviventes estão morrendo de cólera e o dinheiro ainda está no banco" escreveu o jornalista.
Em 2013 foram registrado 27 mortes causadas pelo cólera, chegando a 8 mil no total e mais de 650 mil infectados. Do total de mortos, corrigindo informação de nossa edição, foi entregue à ONU uma lista de 5000 nomes de mortos identificados, numa ação que responsabiliza a ONU pela introdução do cólera no Haiti.
Minustah
Seguem ocupando o país 7.700 militares, 1.278 agentes de policia e 595 civis que compõem as forças da missão da ONU, a Minustah. Durante o terremoto e nos dias seguintes não se via as tropas da ONU na ajuda à população e, nesses três anos subseqüentes, suas ações seguem vilipendiando o povo haitiano, com seguidas humilhações e acusações de violência física comprovadas, invasões de universidades até violência sexual (caso dos soldados uruguaios).
E a ocupação tem um custo, alto, de cerca de 800 milhões de dólares por ano. Segundo Ansel Herz, jornalista que sobreviveu ao terremoto e desde então escreve sobre o Haiti para vários jornais, “grande parte do dinheiro arrecadado, se não vai para as ONGs, volta para pagar os custos de manutenção dos soldados no país”.
Mas não é somente uma questão de verbas gastas, mas da soberania do Haiti. Politicamente, as tropas da Minustah bancaram a farsa que “elegeu” o presidente Martelly; elas atuam como “guarda pretoriana” e são chamadas para reprimir as manifestações populares.
Por isso, em todas os atos e passeatas, quando o povo sai às ruas por emprego, salários, leva sempre uma bandeira que diz “Abaixo a Minustah”

Comitê Defender o Haiti è Defender a Nós Mesmos!

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Senador haitiano é convidado ao Brasil

Moise Jean-Charles senador do Haiti, integrou, em outubro de 2012, uma delegação internacional que dirigiu-se à sede da ONU em Nova York para exigir a retirada das tropas. Nessa ocasião ele apresentou uma resolução do Senado, para que o governo haitiano apresentasse “ao Conselho de Segurança da ONU a demanda formal da retirada de todos os componentes da Minustah em um período não superior a um ano, ou até 15 de outubro de 2012”. 
O Comitê “Defender o Haiti é defender Nós mesmos”, sediado na Assembléia Legislativa de São Paulo, com o apoio de dirigentes do MST, CUT e Jubileu Sul, está convidando o senador Moise para vir ao Brasil, em março desse ano, para expor a real situação no país. A atividade faz parte da preparação da delegação brasileira à Conferência continental que ocorre no Haiti em 1º junho desse ano, proposta pela delegação que esteve na ONU em outubro de 2012..