3 de nov. de 2014

Depois de 10 anos, continua a ocupação do Haiti

Mandato da Minustah foi renovado por mais um ano

Reunido em 14 de outubro, o Conselho de Segurança da ONU decidiu “prorrogar o mandato da MINUSTAH (missão da ONU pela estabilização do Haiti) até 15 de outubro de 2015, com intenção de renova-lo posteriormente.”

Ou seja, a ONU decidiu que a ocupação militar do país seguirá, malgrado estarem lá há 10 anos sem estabilizar coisa alguma. A ocupação piorou a vida do povo, introduziu a epidemia de cólera, reprimiu com as tropas manifestações populares e pisoteou a soberania daqueles que, há 210 anos, conquistaram a independência a partir de uma rebelião de escravos negros!

Tropas da ONU estão no Haiti para reprimir o povo

Eleições livres num país ocupado?

O presidente fantoche dos EUA, Michel Martelly, anunciou o adiamento das eleições de senadores e de administrações municipais. Isso levaria à dissolução do Senado, cujo mandato expira em 12 de janeiro de 2015, deixando Martelly com as mãos livres para governar por meio de decretos.

Mas como é possível eleições livres e democráticas debaixo de ocupação militar estrangeira? A própria eleição de Martelly, em 2011, foi uma fraude orquestrada pelos EUA e sustentada pelas tropas da ONU, comandadas pelo Brasil.

Desde então, ele se recusou a realizar eleições para o Senado, provocando desgastes para a ONU. Em meio a uma crise, foi articulado o “Acordo de El Rancho” que permitiria realizar as eleições sem respeitar a Constituição haitiana e cobrindo a ocupação.

Mas diante da forte resistência ao teatro montado pelo imperialismo, os grandes partidos de oposição protestaram e seis senadores, dentre eles Jean Charles Moise, que esteve no Brasil em maio último para receber o título de Cidadão Paulistano, estão bloqueando a aplicação daquele acordo anticonstitucional.

Fora as tropas da ONU! Fora Martelly!

Em 17 de outubro, data do assassinato há 208 anos de Jean Jacques Dessalines, um dirigente da luta pela independência do Haiti, milhares foram às ruas de Porto Príncipe protestando contra Martelly e pela retirada das tropas.

A Policia Nacional do Haiti atacou os manifestantes com gás e atirando para intimidar. O senador Moise, presente na manifestação, chegou a ficar inconsciente em função do gás lacrimogêneo.
No dia 26, data das eleições adiadas, manifestações novamente colocaram os haitianos nas ruas, aos gritos de: Fora Martelly! Fora Minustah!

Barbara Corrales

*texto originalmente publicado em: Jornal O Trabalho ed. 757 www.otrabalho.org.br