“Uma afronta à soberania do povo
haitiano”
Vereadora do PT fala sobre a campanha
pela retirada das tropas do Haiti
A
ocupação do Haiti, liderada pelas tropas brasileiras, gastou entre "2004 e
dezembro de 2012 R$ 3,04 bilhões, em valores atualizados pela inflação. No mesmo
período, a ONU reembolsou o Brasil em R$ 709 milhões, em valores igualmente
corrigidos. Assim, o Tesouro brasileiro desembolsou efetivamente R$ 2,33
bilhões" (FSP 30 julho 2013). Para além dos custos políticos de mais de nove
anos de ocupação, pisoteando a soberania do povo haitiano, o custo econômico da
operação daria para construir pelo menos 10 hospitais de 240 leitos e 35
escolas no país.
Em
junho passado, uma Conferência continental pela retirada das tropas da Minustah
do Haiti, realizou-se em Porto Príncipe. Entre as delegações dos noves países
presentes – além de uma representativa participação do Haiti- estava a
delegação brasileira. Com sete membros ela foi composta por representantes da
CUT, MNU, Secretaria do Combate ao Racismo do PT e do MST.
Ouvimos
a vereadora de São Paulo Juliana Cardoso (PT) que participou da Conferência, em
entrevista feitar por Barbara Corrales, Juliana fala sobre sua avaliação da
situação e a continuidade da luta.
O Trabalho - Muitos dizem que a ocupação do Haiti é uma "missão
humanitária". O que você constatou ao participar da Conferência em Porto
Príncipe, em particular ouvindo os haitianos?
Juliana Cardoso - Acho que é uma agressão ao povo
haitiano. A gente via na rua, no Ato que foi feito na praça, que é uma afronta,
uma verdadeira ofensa à soberania do povo haitiano que não aceita a presença
das tropas. O Brasil poderia ajudar de outra maneira, mas com as tropas lá não
dá! Poderia ajudar na saúde, educação, tecnologia, mas fica mandando dinheiro
para pagar as tropas...
OT - O senado haitiano
adotou em 28 de maio desse ano, pela segunda vez, uma resolução, por unanimidade, pela retirada das tropas. Como
você vê o fato do governo do Haiti, da ONU e dos governos com tropas no país
ignorarem isso?
JC – Quando a gente soube da resolução adotada por
unanimidade, isto quer dizer que todos os senadores, independente da força
política, votaram pela soberania e a vontade deles deveria ser respeitada por
todos os outros governos, principalmente pelo Brasil. Quando se vai ao Haiti,
pode-se ver que as tropas estão lá não para ajudar, mas para defender os
interesses econômicos desses países. Vimos que elas "guardam" as
fabricas das zonas francas e os bairros dos ricos, ou seja, as multinacionais
desses países, que ganham muito dinheiro com a ocupação.
Na
conferência fiquei muito impressionada com o depoimento de uma trabalhadora da
zona franca, que descreveu suas condições de vida e trabalho e parecia trabalho
escravo, uma exploração que só as tropas mesmo para garantir.
OT - A Conferência
chamou uma jornada continental no fim de julho início de agosto. O que você
acha que pode ser feito no Brasil? Como responder à solidariedade parlamentar
que a resolução do senado haitiano pede ao parlamentares de países com tropas?
JC – Vamos organizar em São Paulo, na volta dos trabalhos da
Câmara, em 8 de agosto, uma atividade de prestação de contas da delegação que
esteve no Haiti para divulgar a luta do povo haitiano. Também vou propor uma Moção
da casa em solidariedade ao senado haitiano e a sua decisão pela retirada das
tropas.
Estamos também organizando, em Brasília, uma
atividade no Senado, no dia 7 de agosto, para que todos fiquem cientes da
posição do Senado haitiano.
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