6 de ago. de 2013

ENTREVISTA: “Uma afronta à soberania do povo haitiano”

abaixo publicamos entrevista da Vereadora do PT da cidade de São Paulo, Juliana Cardoso, originalmente publicada no Jornal O trabalho (otrabalho.org.br).

“Uma afronta à soberania do povo haitiano”
Vereadora do PT fala sobre a campanha pela retirada das tropas do Haiti

A ocupação do Haiti, liderada pelas tropas brasileiras, gastou entre "2004 e dezembro de 2012 R$ 3,04 bilhões, em valores atualizados pela inflação. No mesmo período, a ONU reembolsou o Brasil em R$ 709 milhões, em valores igualmente corrigidos. Assim, o Tesouro brasileiro desembolsou efetivamente R$ 2,33 bilhões" (FSP 30 julho 2013). Para além dos custos políticos de mais de nove anos de ocupação, pisoteando a soberania do povo haitiano, o custo econômico da operação daria para construir pelo menos 10 hospitais de 240 leitos e 35 escolas no país.  
Em junho passado, uma Conferência continental pela retirada das tropas da Minustah do Haiti, realizou-se em Porto Príncipe. Entre as delegações dos noves países presentes – além de uma representativa participação do Haiti- estava a delegação brasileira. Com sete membros ela foi composta por representantes da CUT, MNU, Secretaria do Combate ao Racismo do PT e do MST.
Ouvimos a vereadora de São Paulo Juliana Cardoso (PT) que participou da Conferência, em entrevista feitar por Barbara Corrales, Juliana fala sobre sua avaliação da situação e a continuidade da luta.

O Trabalho - Muitos dizem que a ocupação do Haiti é uma "missão humanitária". O que você constatou ao participar da Conferência em Porto Príncipe, em particular ouvindo os haitianos?

Juliana Cardoso - Acho que é uma agressão ao povo haitiano. A gente via na rua, no Ato que foi feito na praça, que é uma afronta, uma verdadeira ofensa à soberania do povo haitiano que não aceita a presença das tropas. O Brasil poderia ajudar de outra maneira, mas com as tropas lá não dá! Poderia ajudar na saúde, educação, tecnologia, mas fica mandando dinheiro para pagar as tropas...


OT - O senado haitiano adotou em 28 de maio desse ano, pela segunda vez, uma resolução, por  unanimidade, pela retirada das tropas. Como você vê o fato do governo do Haiti, da ONU e dos governos com tropas no país ignorarem isso?

JC – Quando a gente soube da resolução adotada por unanimidade, isto quer dizer que todos os senadores, independente da força política, votaram pela soberania e a vontade deles deveria ser respeitada por todos os outros governos, principalmente pelo Brasil. Quando se vai ao Haiti, pode-se ver que as tropas estão lá não para ajudar, mas para defender os interesses econômicos desses países. Vimos que elas "guardam" as fabricas das zonas francas e os bairros dos ricos, ou seja, as multinacionais desses países, que ganham muito dinheiro com a ocupação.
Na conferência fiquei muito impressionada com o depoimento de uma trabalhadora da zona franca, que descreveu suas condições de vida e trabalho e parecia trabalho escravo, uma exploração que só as tropas mesmo para garantir.

OT - A Conferência chamou uma jornada continental no fim de julho início de agosto. O que você acha que pode ser feito no Brasil? Como responder à solidariedade parlamentar que a resolução do senado haitiano pede ao parlamentares de países com tropas?

JC – Vamos organizar em São Paulo, na volta dos trabalhos da Câmara, em 8 de agosto, uma atividade de prestação de contas da delegação que esteve no Haiti para divulgar a luta do povo haitiano. Também vou propor uma Moção da casa em solidariedade ao senado haitiano e a sua decisão pela retirada das tropas.
Estamos também organizando, em Brasília, uma atividade no Senado, no dia 7 de agosto, para que todos fiquem cientes da posição do Senado haitiano.

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