19 de mar. de 2014

10 anos de ocupação: basta!

Há uma década tropas da ONU esmagam a soberania do Haiti e a situação no país se deteriora

Em 29 de fevereiro de 2004, um golpe de estado orquestrado pelos EUA, com o apoio da França e Canadá, derrubou o presidente eleito Jean-Bertrand Aristide, sequestrando-o e deportando-o para a África do Sul ,onde viveu um exílio de oito anos.

O golpe antecedeu a decisão de enviar a missão da ONU no país, a Minustah. À época Bush,  presidente dos EUA, incumbiu, através do então presidente Lula, o comando da ocupação às tropas brasileiras. Desde então, são 10 anos com as tropas de ocupação reprimindo os movimentos sindicais e populares, invadindo universidades, violentando meninas e mulheres haitianas, além de ter introduzido o cólera no país, que contaminou 699.244 pessoas e matou 8.549 haitianos. A ONU se recusa a assumir a reparação deste crime, exigida pelos haitianos, no quadro de ampla campanha pela retirada das tropas do país.
A situação se deteriora no país

 “O governo não conseguiu marca uma data para as eleições. Sob a égide da Conferência Episcopal do Haiti, foi iniciado um diálogo com diversas organizações da sociedade civil e política. A grande maioria da população não está representada nesse pretenso diálogo, nenhum dos partidos políticos signatários representa verdadeiramente os interesses do povo. A situação econômica e social da população não para de se deteriorar, os preços dos produtos de primeira necessidade atingem picos extraordinários.”. Assim a militante haitiana Khatia avalia a situação hoje no país. Afirmando que "a luta pela retirada das tropas da Minustah segue sendo um combate permanente para o setor popular haitiano”, ela refere-se à intenção do presidente Martelly, de “levar até o fim o mandato da Minustah” e afirma que a presença das tropas no país “fez muito mal à população, com diferentes formas de violências físicas e sexuais e pelo fato de terem introduzido no Haiti o vírus do cólera, que continua a fazer muitas vítimas”.

Aperfeiçoamento da democracia?

Em artigo no jornal The New York Times, o ex-presidente Lula afirma que nesses 10 anos de ocupação houve um "fortalecimento da democracia" no Haiti. Ele dá como exemplo as eleições presidências realizadas sob o comando das tropas de ocupação. Que democracia é essa, na qual, nas últimas eleições o partido do ex-presidente deposto pelo golpe, o Fanmi Lavallas, foi impedido de concorrer e os resultados eleitorais foram completamente manipulados?

Dez anos depois, é mais que urgente dizer “basta” e prosseguir a luta pela retirada imediata das tropas do Haiti.


Revelações

O diplomata brasileiro Ricardo Seitenfus foi embaixador da Organização Dos Estados Americanos (OEA) para o Haiti. Ele foi demitido no final de 2010 depois de denunciar irregularidades e morosidade no atendimento às vítimas do terremoto.

Em livro recém publicado “Haiti: Dilemas e Fracassos Internacionais” (Editora da Universidade de Ijui, RS), Seitenfus revela fatos que desmascaram a missão da ONU no Haiti.

Ele relata, por exemplo, as reuniões secretas entre o Representante Especial do Secretário- Geral da ONU e chefe da Minustah, Edmond Mulet, o embaixador dos EUA Kenneth Merten para discutir um golpe contra o então presidente do Haiti, René Preval em 2010. Seinfus relata como que depois de não ter prosperado a tentativa de golpe, a candidatura de Jude Célestin, apoiado por Preval, nas eleições presidenciais de novembro de 2010, foi sabotada, numa manipulação eleitoral sob comando direto da OEA, para fabricar a eleição do atual presidente, Martelly.


A “Missão de Recontagem” dos votos organizada pela OEA, fabricou um resultado que, eliminado 38.541 votos de Celestian, tirou-o do 2º turno. Em março de 2011, com o comparecimento de 17% do eleitorado, Martelly foi feito presidente. 

Barbara Corrales

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