Há uma década tropas da ONU esmagam
a soberania do Haiti e a situação no país se deteriora
Em 29 de fevereiro de 2004, um golpe de estado orquestrado pelos
EUA, com o apoio da França e Canadá, derrubou o presidente eleito Jean-Bertrand
Aristide, sequestrando-o e deportando-o para a África do Sul ,onde viveu um
exílio de oito anos.
O golpe antecedeu a decisão de enviar a missão
da ONU no país, a Minustah. À época Bush,
presidente dos EUA, incumbiu, através do então presidente Lula, o
comando da ocupação às tropas brasileiras. Desde então, são 10 anos com as tropas
de ocupação reprimindo os movimentos sindicais e populares, invadindo
universidades, violentando meninas e mulheres haitianas, além de ter
introduzido o cólera no país, que contaminou 699.244 pessoas e matou 8.549
haitianos. A ONU se recusa a assumir a reparação deste crime, exigida pelos
haitianos, no quadro de ampla campanha pela retirada das tropas do país.
A
situação se deteriora no país
“O
governo não conseguiu marca uma data para as eleições. Sob a égide da
Conferência Episcopal do Haiti, foi iniciado um diálogo com diversas
organizações da sociedade civil e política. A grande maioria da população não
está representada nesse pretenso diálogo, nenhum dos partidos políticos
signatários representa verdadeiramente os interesses do povo. A situação
econômica e social da população não para de se deteriorar, os preços dos
produtos de primeira necessidade atingem picos extraordinários.”. Assim a
militante haitiana Khatia avalia a situação hoje no país. Afirmando que "a
luta pela retirada das tropas da Minustah segue sendo um combate permanente
para o setor popular haitiano”, ela refere-se à intenção do presidente
Martelly, de “levar até o fim o mandato da Minustah” e afirma que a presença
das tropas no país “fez muito mal à população, com diferentes formas de
violências físicas e sexuais e pelo fato de terem introduzido no Haiti o vírus
do cólera, que continua a fazer muitas vítimas”.
Aperfeiçoamento
da democracia?
Em
artigo no jornal The New York Times, o ex-presidente Lula afirma que nesses 10
anos de ocupação houve um "fortalecimento da democracia" no Haiti. Ele dá
como exemplo as eleições presidências realizadas sob o comando das tropas de
ocupação. Que democracia é essa, na qual, nas últimas eleições o partido do
ex-presidente deposto pelo golpe, o Fanmi Lavallas, foi impedido de concorrer e
os resultados eleitorais foram completamente manipulados?
Dez anos depois, é mais que urgente dizer
“basta” e prosseguir a luta pela retirada imediata das tropas do Haiti.
Revelações
O
diplomata brasileiro Ricardo Seitenfus foi embaixador da Organização Dos
Estados Americanos (OEA) para o Haiti. Ele foi demitido no final de 2010 depois
de denunciar irregularidades e morosidade no atendimento às vítimas do
terremoto.
Em
livro recém publicado “Haiti: Dilemas e Fracassos Internacionais” (Editora da
Universidade de Ijui, RS), Seitenfus revela fatos que desmascaram a missão da
ONU no Haiti.
Ele
relata, por exemplo, as reuniões secretas entre o Representante Especial do
Secretário- Geral da ONU e chefe da Minustah, Edmond Mulet, o embaixador dos
EUA Kenneth Merten para discutir um golpe contra o então presidente do Haiti,
René Preval em 2010. Seinfus relata como que depois de não ter prosperado a
tentativa de golpe, a candidatura de Jude Célestin, apoiado por Preval, nas
eleições presidenciais de novembro de 2010, foi sabotada, numa manipulação
eleitoral sob comando direto da OEA, para fabricar a eleição do atual
presidente, Martelly.
A
“Missão de Recontagem” dos votos organizada pela OEA, fabricou um resultado
que, eliminado 38.541 votos de Celestian, tirou-o do 2º turno. Em março de 2011,
com o comparecimento de 17% do eleitorado, Martelly foi feito presidente.
Barbara Corrales
Nenhum comentário:
Postar um comentário