Ás véspera da renovação do mandato da Minustah, haitianos intensificam luta contra ocupação*
Mais e mais se repetem manifestações nas ruas do Haiti, levantando a exigência da retirada das tropas de ocupação da missão da ONU (Minustah), cujo mandato está para ser renovado em outubro.
“Abaixo a Minustah, cólera”(referência à epidemia de cólera que matou seis mil haitianos, transmitida por soldados do Nepal), “Brasil + Chile = ocupação”, são algumas das faixas levantadas nas manifestações.
Em 14 de setembro, os estudantes foram duramente reprimidos, com bombas de gás lacrimogêneo, durante manifestação. Estudantes da faculdade de etnologia afirmam que continuarão a se manifestar até que as tropas Minustah saiam do país. Em cartazes fixados na faculdade eles exigem “Proibição dos soldados da Minustah de circular na faculdade”.
Elie Odivin, porta-voz do movimento, diz que se trata de “livrar o país desses soldados da missão que custa sete milhões de dólares, enquanto boa parte do povo haitiano vive em extrema pobreza, com menos de um dólar por dia”.
Nem mais um dia!
O povo do Haiti não suporta mais um dia de ocupação. Manifestações e denuncias contra as tropas ocorrem há anos. Mas elas explodiram, nas últimas semanas depois que foi tornada pública a denúncia, com vídeos, de um jovem haitiano violentado por soldados das tropas uruguaias que integram a Minustah. Todos comprometidos com a ocupação, inclusive o ministro da Defesa Celso Amorim, tentaram explicar que esse fato era um episódio isolado. Ora, quando um país é esmagado em sua soberania por tropas estrangeiras, abusos como esse, e outros, são ocorrências comuns, como provam fartas denuncias documentadas.
Há sete anos o povo resiste à ocupação. Há sete anos o imperialismo mantém a ocupação que joga cada vez mais o povo haitiano numa situação de barbárie. Em crise, o imperialismo, através da ONU, fala agora em retirada gradual. Solinas, seu representante que recebeu em agosto uma delegação pela retirada das tropas falou em “uma notícia boa e uma má notícia”.
A “boa” seria que o secretário geral da ONU, Ban Ki Moon, vai apresentar um relatório com uma estratégia de saída das forças da ONU do Haiti. A “má notícia” seria que essa retirada “não será para amanhã, será gradual”.
Fignolé, dirigente da Central dos Trabalhadores Haitianos (Cath), presente na delegação respondeu:
“A boa e a má notícia são uma coisa só: o Haiti continuará um país ocupado, num futuro indefinido”,
Em 5 de setembro, o ministro Celso Amorim declarou: "Não podemos ter uma saída desorganizada que gere uma situação de caos". Não, senhor ministro, nem mais um dia! A situação de caos que vive o Haiti foi criada, desde a deposição do presidente Aristide e a posterior ocupação por essa dita “missão de paz” que está impondo uma situação de superexploração, repressão, degradação do país ao esmagar sua soberania.
Retirada imediata das tropas, é a exigência que levantará o Ato Continental de 5 de novembro em São Paulo.
Misa Boito
Ato Continental 5 de novembro