1 de jun. de 2012

“A Minustah é o braço armado das multinacionais”


“A Minustah é o braço armado das multinacionais”
Na véspera da Jornada Internacional pela Retirada da Minustah, entrevista com Fignolé Saint-Cyr (FSC), secretário geral da Central Autônoma dos Trabalhadores Haitianos (CATH)

No próximo dia 1º de junho, uma jornada internacional de mobilização (1) esta sendo organizada em apoio à exigência do povo haitiano de ver imediatamente retirada as tropas da Minustah, que ocupam a ilha há oito anos. Esta jornada, cuja iniciativa partiu de uma reunião continental, em 5 de novembro passado, em São Paulo (Brasil), referendada pela Conferência Caribenha ocorrida nos dias 16, 17 e 18 de novembro, em Vertières (Haiti). Apresentada como uma operação visando o estabelecimento da paz e segurança, a Minustah (missão da ONU) é a causa da insegurança e de sofrimentos inomináveis infligidos à população, já martirizado pelo terrível terremoto cujas consequências trágicas ainda não começaram a ser solucionadas. .
A MINUSTAH se revela como guardiã de uma ordem anti-operária e antidemocrática, como mostram as numerosas “zonas francas” onde o proletariado sem direitos está sujeito a mais terrível exploração.

A conferência caribenha de Vertières lançou, entre outros, um "apelo ao movimento operário e democrático internacional para exigir a reintegração dos trabalhadores demitidos nas zonas francas". Qual o significado disso?
FSC - A resolução da conferência de Vertières, demanda efetivamente ao movimento operário e democrático internacional que intervenha junto ao governo haitiano para a reintegração de nossos dois camaradas que foram demitidos na zona franca de Ouanaminthe, que são Dieubénite Dorsainvil e Arnold Bien-Aimé. Posso dizer que esta campanha é um gesto magnífico, mesmo se, até o presente, o governo e o ministério de ASSUNTOS SOCIAIS e do Trabalho tenham ignorado os protestos realizados pelas centrais  e federações do Caribe e a nível internacional.
Esta solidariedade tem desempenhado um papel útil para o estabelecimento de ligações entre os povos, permitindo também que nossa seção sindical na zona franca de Ouanaminthe se fortaleça. Finalmente, os patrões tiveram que aceitar a existência do sindicato.
A solidariedade internacional deve exigir, agora, que o Haiti respeite as convenções da OIT, principalmente os artigos 87 e 98, relacionados aos sindicatos.
O caso de nossos dois camaradas está hoje no Tribunal do Trabalho, na jurisdição de Fort-Liberté, no departamento Nordeste, junto com o processo que opõe Sofezo-CATH e Codevi, em Ouanaminthe.

Três audiências foram realizadas. Nas duas primeiras, os representantes dos patrões primaram pela ausência. Então o juiz, Wilfrid Brutus, emitiu uma ordem exigindo a presença do réu no tribunal em 14 de maio. Presentes dessa vez, os representantes patronais apresentaram seu plano maligno, pedindo ao tribunal que lhes concedesse uma prorrogação para que pudessem preparar sua defesa. E o tribunal se viu obrigado a concordar. O juiz então fixou nova data para o julgamento.
O objetivo da CATH é a reintegração de nossos dois camaradas demitidos. Uma vez mais, seu apoio é necessário para alcançar o objetivo. Porque a justiça haitiana é a justiça de “quem paga mais”. Mesmo o juiz parecendo independente, a inquietude é grande, porque o desafio é alto. Permita-me lembrar que, em 14 de maio, eu mesmo, Fignolé Saint-Cyr, secretário geral da CATH, fui agredido fisicamente, dentro do tribunal por Albert Joseph, representante dos patrões, que afirmava que iria vencer o processo, diante do juiz e gritava que Dieubénite e Arnold jamais seriam reintegrados.
Que relação você faz entre a repressão anti-sindical e a presença das tropas da Minustah no Haiti?
A repressão anti-sindical é recorrente nas zonas francas no Haiti. Temos um estado assediado no plano político e econômico pelas potências ocidentais, Estados Unidos a frente. Um governo que está a serviço das multinacionais – com um “pro-consul”, Bill Clinton, o ex-presidente dos Estados Unidos, na chefia da CIRH -  que leva ao extremo a política neoliberal de exploração da mão-de-obra barata: menos de três euros por uma jornada de trabalho. A política anti-sindical é o cavalo de batalha do governo para impedir a implantação de movimentos sindicais independentes e de massa, capazes de responder às reivindicações dos trabalhadores. A CATH adotou uma linha classista e de massa. Lutamos todos os dias para implantar na população esta concepção, cujo objetivo é um movimento sindical independente das ONG, das instituições internacionais e do governo (Nou  p’ap manje nan men yo e nou p’ap bwe nan men yo). É por isso que a CATH, enquanto central sindical independente, se inscreve no combate, junto com outras organizações, para reconquistar a soberania do Haiti.
A Minustah é o braço armado das multinacionais para implantação de zonas francas no Haiti e proteger autoridades políica. E também para destruir todas as formas de lutas populares e reivindicativas.
No próximo 1º de junho, fará oito anos que ela está presente no Haiti, oito anos marcados por estupros, roubos e assassinatos.
E, no marco da mobilização continental, caribenha e internacional, o Haiti se mobilizará pela retirada imediata das tropas da ONU (Minustah).
Saudações!
Entrevistado por  Robert Fabert para o Informações Operárias

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