“A Minustah é o
braço armado das multinacionais”
Na véspera da
Jornada Internacional pela Retirada da Minustah, entrevista com Fignolé
Saint-Cyr (FSC), secretário geral da Central Autônoma dos Trabalhadores
Haitianos (CATH)
No próximo dia
1º de junho, uma jornada internacional de mobilização (1) esta sendo organizada
em apoio à exigência do povo haitiano de ver imediatamente retirada as tropas da
Minustah, que ocupam a ilha há oito anos. Esta jornada, cuja iniciativa partiu
de uma reunião continental, em 5 de novembro passado, em São Paulo (Brasil),
referendada pela Conferência Caribenha ocorrida nos dias 16, 17 e 18 de
novembro, em Vertières (Haiti). Apresentada como uma operação visando o
estabelecimento da paz e segurança, a Minustah (missão da ONU) é a causa da
insegurança e de sofrimentos inomináveis infligidos à população, já martirizado
pelo terrível terremoto cujas consequências trágicas ainda não começaram a ser
solucionadas. .
A MINUSTAH se
revela como guardiã de uma ordem anti-operária e antidemocrática, como mostram
as numerosas “zonas francas” onde o proletariado sem direitos está sujeito a
mais terrível exploração.
A conferência
caribenha de Vertières lançou, entre outros, um "apelo ao movimento operário e
democrático internacional para exigir a reintegração dos trabalhadores demitidos
nas zonas francas". Qual o significado disso?
FSC - A
resolução da conferência de Vertières, demanda efetivamente ao movimento
operário e democrático internacional que intervenha junto ao governo haitiano
para a reintegração de nossos dois camaradas que foram demitidos na zona franca
de Ouanaminthe, que são Dieubénite Dorsainvil e Arnold Bien-Aimé. Posso dizer
que esta campanha é um gesto magnífico, mesmo se, até o presente, o governo e o
ministério de ASSUNTOS SOCIAIS e do Trabalho tenham ignorado os protestos
realizados pelas centrais e federações do Caribe e a nível
internacional.
Esta
solidariedade tem desempenhado um papel útil para o estabelecimento de ligações
entre os povos, permitindo também que nossa seção sindical na zona franca de
Ouanaminthe se fortaleça. Finalmente, os patrões tiveram que aceitar a
existência do sindicato.
A solidariedade
internacional deve exigir, agora, que o Haiti respeite as convenções da OIT,
principalmente os artigos 87 e 98, relacionados aos sindicatos.
O caso de
nossos dois camaradas está hoje no Tribunal do Trabalho, na jurisdição de
Fort-Liberté, no departamento Nordeste, junto com o processo que opõe
Sofezo-CATH e Codevi, em Ouanaminthe.
Três audiências
foram realizadas. Nas duas primeiras, os representantes dos patrões primaram
pela ausência. Então o juiz, Wilfrid Brutus, emitiu uma ordem exigindo a
presença do réu no tribunal em 14 de maio. Presentes dessa vez, os
representantes patronais apresentaram seu plano maligno, pedindo ao tribunal que
lhes concedesse uma prorrogação para que pudessem preparar sua defesa. E o
tribunal se viu obrigado a concordar. O juiz então fixou nova data para o
julgamento.
O objetivo da
CATH é a reintegração de nossos dois camaradas demitidos. Uma vez mais, seu
apoio é necessário para alcançar o objetivo. Porque a justiça haitiana é a
justiça de “quem paga mais”. Mesmo o juiz parecendo independente, a inquietude é
grande, porque o desafio é alto. Permita-me lembrar que, em 14 de maio, eu
mesmo, Fignolé Saint-Cyr, secretário geral da CATH, fui agredido fisicamente,
dentro do tribunal por Albert Joseph, representante dos patrões, que afirmava
que iria vencer o processo, diante do juiz e gritava que Dieubénite e Arnold
jamais seriam reintegrados.
Que relação
você faz entre a repressão anti-sindical e a presença das tropas da Minustah no
Haiti?
A repressão
anti-sindical é recorrente nas zonas francas no Haiti. Temos um estado assediado
no plano político e econômico pelas potências ocidentais, Estados Unidos a
frente. Um governo que está a serviço das multinacionais – com um “pro-consul”,
Bill Clinton, o ex-presidente dos Estados Unidos, na chefia da CIRH - que leva
ao extremo a política neoliberal de exploração da mão-de-obra barata: menos de
três euros por uma jornada de trabalho. A política anti-sindical é o cavalo de
batalha do governo para impedir a implantação de movimentos sindicais
independentes e de massa, capazes de responder às reivindicações dos
trabalhadores. A CATH adotou uma linha
classista e de massa. Lutamos todos os dias para implantar na população esta
concepção, cujo objetivo é um movimento sindical independente das ONG, das
instituições internacionais e do governo (Nou p’ap manje nan men yo e nou p’ap
bwe nan men yo). É por isso que a CATH, enquanto central sindical independente,
se inscreve no combate, junto com outras organizações, para reconquistar a
soberania do Haiti.
A Minustah é o
braço armado das multinacionais para implantação de zonas francas no Haiti e
proteger autoridades políica. E também para destruir todas as formas de lutas
populares e reivindicativas.
No próximo 1º
de junho, fará oito anos que ela está presente no Haiti, oito anos marcados por
estupros, roubos e assassinatos.
E, no marco da
mobilização continental, caribenha e internacional, o Haiti se mobilizará pela
retirada imediata das tropas da ONU (Minustah).
Saudações!
Entrevistado
por Robert Fabert para o Informações Operárias
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